Acesso dos divorciados à comunhão é um desafio de Francisco
De maneira "prudente, mas
audaz", segundo ele, e um pouco lenta para os desejosos de mudanças
rápidas, Francisco realizou em seu primeiro ano de
pontificado reformas importantes, e estuda uma maior presença da mulher na igreja e analisa o espinhoso tema
do acesso dos católicos divorciados à comunhão.
O papa Francisco tem seu olhar
voltado para o Sínodo de Bispos que será realizado no final de ano no Vaticano.
A reunião abordará os desafios pastorais sobre a família no contexto da
evangelização no mundo atual, um dos pontos mais delicados do seu pontificado.
Recentemente, o papa expressou
sua preocupação pela família, que, para ele, atravessa uma crise muito séria.
"É difícil formar uma
família. Os jovens casam-se pouco, há muitas famílias separadas nas quais o projeto
de vida comum fracassou, os filhos sofrem muito: temos de dar uma resposta, mas
para isso é preciso refletir muito profundamente", disse o pontífice no
começo desse mês ao jornal "Corriere della Sera".
Os bispos de todo o mundo
também analisarão no Sínodo a admissão aos sacramentos dos católicos
divorciados que voltaram a se casar e não podem comungar. Até agora, de acordo
com o Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, essa proibição é
"lei divina", ou seja, transcende o âmbito das leis eclesiásticas e
nem mesmo a igreja pode modificar.
O cardeal alemão Walter
Kasper, presidente emérito do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade
dos Cristãos, é a favor de que divorciados possam comungar, embora defenda que
essa abertura não seja generalizada. Para ele, ela deve ser limitada aos que
"querem viver com a Igreja e admitam e lamentem ter cometido um erro em
seu primeiro casamento".
No entanto, o cardeal Gerhard
Ludwig Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, é contrário a
essa abertura.
Francisco insiste na linha que
a igreja mantém há anos: que não se deve "condenar", mas
"acompanhar" as pessoas que fracassaram em seu casamento. A
igreja se mostra dividida, daí a importância do sínodo.
Outro desafio do pontificado é
a maior presença da mulher na estrutura da igreja. Francisco já afirmou que
elas têm que ter um papel maior e que é necessária a figura feminina com mais
consideração nos lugares onde são tomadas "as decisões importantes".
No entanto, essa maior presença não representa a abertura das portas do
sacerdócio para as mulheres.
Na mesma linha que os
antecessores, Francisco rejeitou que as mulheres possam chegar ao sacerdócio e
de maneira definitiva disse: "a igreja falou e disse "não", essa
porta está fechada".
Francisco tem que enfrentar
também outro tema importante como uma maior colegialidade na Igreja, ou seja a
relação entre a Cúria e os episcopados nacionais, um dos pontos que ficaram sem
resolução na era de Bento XVI.
Vários bispos consideram que é
preciso estimular o governo comum da Igreja e aumentar as atribuições das
conferências episcopais, enquanto na cúria vaticana são muitos os que pensam
que deve prevalecer o governo central da igreja.
O caminho rumo à colegialidade
é longo e, segundo o teólogo heterodoxo Hans Kung, Roma continua exibindo uma
Igreja forte, absolutista, que reúne em suas mãos os poderes (legislativo,
executivo e judiciário), e que não leva em conta a universalidade.
São muitos os temas para
tratar. Francisco deve prosseguir com o desenvolvimento do Concílio Vaticano
II, estimular o ecumenismo e as relações com judeus e muçulmanos.
Outro desafio é a escassez de
vocações e a diminuição de sacerdotes. Diante deste problema tornou-se
importante discutir o celibato dos padres católicos. Mas parece que os tempos
ainda não estão maduros para sua abolição. O secretário de Estado
("primeiro-ministro" do Vaticano), o cardeal Pietro Parolin, acredita
que o celibato "não é um dogma" e que pode ser discutido.
O papa deve prosseguir também
as negociações com os lefebvrianos, que suscitaram uma ruptura em 1988 ao
ordenar a quatro bispos sem a permissão do pontífice e que não reconhecem o
Concílio Vaticano II.
Neste ano, Francisco já deu um
grande passo para a reforma das instituições financeiras da Santa Sé, ao criar
uma Secretaria de Economia, que se ocupará de tramitar todas as atividades
econômicas e administrativas do Vaticano.
Além disso, um mês após ser
eleito papa, ele nomeou um conselho de oito cardeais para reformar a Cúria
romana após o escândalo Vatileaks. Por enquanto, os cardeais seguem trabalhando
e se desconhece a sua profundidade.
Fonte:
Exame.com
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