O
que o Papa Francisco realmente disse sobre o aborto e os homossexuais na nova entrevista?
Na
última quinta-feira, 19, dezesseis revistas jesuítas em todo o mundo publicaram
uma extensa entrevista feita no mês de agosto ao Papa Francisco pelo padre
Antonio Spadaro, SJ, diretor da revista La Civiltá Cattolica - uma publicação
jesuíta que é revisada pela secretaria de Estado do Vaticano - cujo conteúdo
foi manipulado por diversos meios de comunicação tentando apresentar o Santo
Padre como oposto à luta pró-vida e pró-família, concretamente nos temas do
aborto e da homossexualidade.
Na
entrevista, o que o Papa falou sobre estes temas aparecem sob o subtítulo
"É a Igreja um hospital de campanha?", e aí o Santo Padre explica que
hoje o importante é "curar feridas", aproximando-se das pessoas com
verdadeira misericórdia.
"Em
vez de ser apenas uma Igreja que acolhe e recebe, mantendo as portas abertas,
procuramos mesmo ser uma Igreja que encontra novos caminhos, que é capaz de
sair de si mesma e ir ao encontro de quem não a frequenta, de quem a abandonou
ou lhe é indiferente. Quem a abandonou o fez, por vezes, por razões que, se
forem bem compreendidas e avaliadas, podem levar a um retorno. Mas é necessário
audácia, coragem", diz o Papa na entrevista com o padre Spadaro.
Ante
a pergunta sobre como deve ser a pastoral com os divorciados que voltaram a
casar ou com os homossexuais, o Papa Francisco assinala que "devemos
anunciar o Evangelho em todos os lugares, pregando a boa nova do Reino e
curando, também com a nossa pregação, todo o tipo de doença e de ferida. Em
Buenos Aires recebia cartas de pessoas homossexuais, que são 'feridos sociais',
porque me dizem que sentem que a Igreja sempre os condenou. Mas a Igreja não
quer fazer isto".
"Durante
o voo de regresso do Rio de Janeiro disse que se uma pessoa homossexual tem boa
vontade e está à procura de Deus, eu não sou ninguém para julgá-la. Dizendo
isso, eu disse aquilo que diz o catecismo. A religião tem o direito de exprimir
a própria opinião para serviço das pessoas, mas Deus, na criação, tornou-nos
livres: a ingerência espiritual na vida pessoal não é possível".
O
Papa recorda logo que "uma vez uma pessoa, para provocar-me, perguntou-me
se aprovava a homossexualidade. Eu, então, respondi-lhe com uma outra pergunta:
'Diz-me: Deus, quando olha para uma pessoa homossexual, aprova a sua existência
com afeto ou rejeita-a, condenando-a?' É necessário sempre considerar a pessoa.
Aqui entramos no mistério do homem. Na vida, Deus acompanha as pessoas e nós
devemos acompanhá-las a partir da sua condição. É preciso acompanhar com
misericórdia. Quando isto acontece, o Espírito Santo inspira o sacerdote a
dizer a coisa mais apropriada".
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJAc4yOh00Y-EMbZbB9pmvjzCVBRywAudF8Rt3Jr2Xc1mEjrLe1Snvxl9PwkLv6Yiz2N64lM4GS4ND3h3DEC1f1ZiDzmJEjTnW-wbnpUAe0BinnT1gEHxYWzUeZ4kXLGT9uTeY5-rdtCY/s320/francisco-spadaro-720_720x241.jpg)
"Esta
é também a grandeza da confissão: o fato de avaliar caso a caso e de poder
discernir qual é a melhor coisa a fazer por uma pessoa que procura Deus e a sua
graça. O confessionário não é uma sala de tortura, mas lugar de misericórdia,
no qual o Senhor nos estimula a fazer o melhor que pudermos. Penso também na
situação de uma mulher que carregou consigo um matrimônio fracassado, no qual
chegou a abortar. Depois esta mulher voltou a casar e agora está serena, com
cinco filhos. O aborto pesa-lhe muito e está sinceramente arrependida. Gostaria
de avançar na vida cristã. O que faz o confessor?".
O
Santo Padre afirma logo que "não podemos insistir somente sobre questões
ligadas ao aborto, ao casamento homossexual e uso dos métodos contraceptivos.
Isto não é possível. Eu não falei muito destas coisas e censuraram-me por isso.
Mas quando se fala disto, é necessário falar num contexto. De resto, o parecer
da Igreja é conhecido e eu sou filho da Igreja, mas não é necessário falar
disso continuamente".
"Os
ensinamentos, tanto dogmáticos como morais, não são todos equivalentes. Uma
pastoral missionária não está obcecada pela transmissão desarticulada de uma
multiplicidade de doutrinas a impor insistentemente. O anúncio de caráter
missionário concentra-se no essencial, no necessário, que é também aquilo que
mais apaixona e atrai, aquilo que faz arder o coração, como aos discípulos de
Emaús", prossegue.
"Devemos,
portanto, encontrar um novo equilíbrio; porque de outro modo, o edifício moral
da Igreja corre o risco de cair como um castelo de cartas, de perder a frescura
e o perfume do Evangelho. A proposta evangélica deve ser mais simples,
profunda, irradiante. Somente desta proposta que vêm depois as consequências
morais".
Papa
ressalta deste modo que diz isto "também pensando na pregação e nos
conteúdos da nossa pregação. Uma bela homilia, uma verdadeira homilia, deve
começar com o primeiro anúncio, com o anúncio da salvação. Não há nada de mais
sólido, profundo e seguro do que este anúncio. Depois deve fazer-se uma
catequese. Depois, pode tirar-se também uma consequência moral. Mas o anúncio
do amor salvífico de Deus precede à obrigação moral e religiosa. Hoje, por
vezes, parece que prevalece a ordem inversa".
"A
homilia é a pedra de comparação para medir a proximidade e a capacidade de
encontro de um pastor com o seu povo, porque quem prega deve reconhecer o
coração da sua comunidade para procurar onde permanece vivo e ardente o desejo
de Deus. A mensagem evangélica não pode limitar-se, portanto, apenas a alguns
dos seus aspectos, que, mesmo importantes, sozinhos não manifestam o coração do
ensinamento de Jesus", sublinha.
Fonte: ACI
Digital