VOCAÇÃO: Resposta de fé.
A primeira vocação é
o chamado de Deus à vida e a vivê-la na correspondência com o desígnio de Deus.
A isso, o papa Francisco exortou os jovens de muitas maneiras, quando os
encorajou a não perderem a esperança, a não se conformarem com o consumismo e o
hedonismo, a terem a coragem de ir contra a corrente, a serem solidários...
Viver, humanamente, de forma plena e frutuosa, também é parte da vocação à fé e
à vida cristã. O Papa Francisco exortou os jovens a serem protagonistas de um
mundo novo.
Agosto, mês das
vocações, no Ano da Fé: que há de novo nisso? As vocações, na Igreja de Cristo,
não são compreensíveis a não ser à luz da fé. O que dá sentido à vida do padre
e à sua dedicação “às coisas de Deus”? Por qual motivo alguém parte para as
missões no meio de povos que não conhece e a eles dedica sua existência
inteira? O que explica que alguém consagre sua vida inteiramente a Deus, já
neste mundo, vivendo desapegado de coisas boas que a vida oferece? Como
explicar que jovens continuem a casar e casais vivam, mesmo com dificuldades,
um casamento fiel, santo e sintonizado com a vontade de Deus?
A resposta é só uma:
a fé, como resposta a Deus, fruto de uma profunda experiência de Deus. A fé
verdadeira faz perceber a vida a partir de um horizonte novo, que não despreza
o horizonte das realidades humanas e das deste mundo; a fé é uma luz
sobrenatural, que se irradia sobre toda a realidade e a faz conhecer a partir
do olhar de Deus. Não é por acaso que o título da encíclica do papa Francisco
sobre a fé é: “Lumen Fidei” – A Luz da Fé. A fé, dom de Deus, dom sobrenatural,
dá uma capacidade que vai além da nossa natureza.
Sem fé, não há
vocação sacerdotal ou religiosa, nem vocação ao matrimônio ou verdadeira
vocação laical. “Sem a fé, é impossível agradar a Deus, pois é preciso crer que
Ele existe e recompensa os que dele se aproximam”, diz ainda a Carta aos
Hebreus (11,6). Muitas vezes pergunta-se
por que as vocações diminuem? Por que não despertam novas vocações sacerdotais
e religiosas? As respostas podem ser várias, mas a principal é esta: por causa
da generalizada crise religiosa e da crise de fé. A fé, experimentada e vivida pessoal e eclesialmente, torna possível
o surgimento das vocações.
A vida na fé,
consciente, serena e alegre, faz perceber e valorizar o chamado de Deus; ao
mesmo tempo, torna possível cultivar e manter uma ordem de valores e escolhas
na vida, para perseverar na resposta ao chamado de Deus. A conclusão
necessária, pois, parece-me ser esta: ajudar os jovens a terem uma boa
iniciação à vida cristã, como “vida na fé”, nos vários ambientes em que ele
vive. Mas, sobretudo, nos espaços da família e da comunidade eclesial. Isso
ainda é possível? A JMJ foi uma amostra dessa possibilidade.
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)