Médicos e padres
Não
é fácil, e talvez nem convenha, comparar médicos com padres, ou vice-versa.
Mesmo que, para se ressaltar a importância da profissão de médico, se costume
dizer que ela é um verdadeiro “sacerdócio”. Mas aqui a comparação entre
médicos e padres, é colocada a propósito da polêmica instaurada nacionalmente,
a respeito da contratação, ou não, de médicos estrangeiros para exercerem sua
profissão em municípios que não dispõem do atendimento médico por profissionais
brasileiros.
Faltam
médicos brasileiros. Faltam padres brasileiros. Aí sim é possível fazer algumas
ponderações. Diante da falta de padres brasileiros, a Igreja sempre esteve
muito aberta para acolher padres estrangeiros. E o povo sempre recebeu bem os
padres vindos de outros países, especialmente da Europa, mas também do Canadá e
até dos Estados Unidos.
Para
dimensionar melhor o que significou para a Igreja do Brasil a presença de
padres estrangeiros é revelador conferir quantos deles acabaram sendo eleitos
bispos. Nas últimas décadas, somando os que já são agora eméritos, passa de cem
o número de bispos estrangeiros colocados à frente de dioceses no Brasil. Isto
representa, propriamente, um terço do episcopado brasileiro.
Claro
que a análise deste fato comportaria outros ingredientes que ajudariam a
explicar a composição do clero brasileiro. Mas o dado mais eloquente a ser
levado em conta é, sem dúvida, a disposição de acolher, sem restrições nem
reservas, a presença de padres estrangeiros, com plena jurisdição pastoral. Esta atitude contribuiu,
certamente, para confirmar a fama do Brasil ser um país aberto à
universalidade, acolhedor da diversidade, sem maiores problemas de convivência
com o diferente, pronto para a harmonia de relacionamentos com pessoas de
outras culturas.
O
fato evidente é este: a presença de padres estrangeiros foi muito positiva,
tanto para o atendimento pastoral das comunidades católicas, como para o
conjunto do país, que pôde contar com a valiosa contribuição de pessoas
capacitadas e laboriosas, que puderam prestar valiosos serviços sociais junto à
população. Diante
disto surge espontânea a pergunta: por que não acolher os médicos estrangeiros,
ainda mais diante da carência de profissionais que faz com que centenas de
municípios brasileiros estejam desprovidos de atendimento médico?
Diante
de situações dramáticas, que precisam de solução urgente, dá para dispensar o
apelo à tradição brasileira, de abertura para a diversidade cultural, e centrar
nossa motivação na urgência humanitária de socorrer a tantos doentes que acabam
morrendo por falta de médico. Nenhum médico gostaria de ser acusado de
omissão de socorro profissional, causado por sua irresponsabilidade.
Certamente
a classe médica do Brasil não quer ser responsabilizada pela falta de
atendimento profissional a tantas pessoas que precisam com urgência de socorro
médico.
Fica
o apelo para que a classe médica do Brasil, através de seus organismos de
representação, coloque diante do Ministério da Saúde suas ponderações sobre
esta demanda, para que se chegue rapidamente a uma solução, que não comprometa
a imagem dos médicos brasileiros, não constranja os médicos estrangeiros, e
sobretudo se transforme em medidas eficazes em favor dos doentes, para quem a
saúde não tem nacionalidade, pois ela goza de cidadania universal.