Solidariedade – “quase um palavrão!”
A passagem
do papa Francisco pelo Brasil, para a Jornada Mundial da Juventude no Rio de
Janeiro, deixou profundas marcas e mensagens, já comentadas amplamente.
Não
deixa de ser eloquente que, depois de sua acolhida protocolar na Palácio
Guanabara e da peregrinação a Aparecida, o primeiro pronunciamento público do
papa Francisco no Rio de Janeiro tenha acontecido, justamente, na visita a uma
comunidade pobre. Engana-se, porém, quem pensa que foi apenas um ato teatral do
“Papa dos pobres”.
Foi
daquela tribuna, do meio dos pobres da Varginha, que o Papa pronunciou o
discurso social mais importante de sua passagem pelo Brasil. Palavras simples e
diretas, como é de seu estilo, para que todos pudessem entender, ele falou com
os pobres, mas também se dirigiu a quem tem poder e posses, em todos os níveis,
locais e mundiais. Sua fala, de fato, retrata uma síntese da Doutrina Social da
Igreja.
Observou
o Papa Francisco que os pobres são capazes de dar ao mundo uma grande lição de
solidariedade, “palavra frequentemente esquecida ou silenciada, porque
incômoda”. Dispensando o texto, ele observou que o conceito de solidariedade é
tido quase como um palavrão, que não faz parte de certa concepção do convívio
social nem deve ser pronunciado.
A
solidariedade é um dever moral, que decorre dos vínculos de natureza existentes
entre todos os seres humanos, membros da mesma espécie e de uma grande família;
todos estão vinculados uns aos outros, no bem e no mal; a sorte de uns está
ligada à sorte de todos. Estamos todos no mesmo barco.
O
papa Francisco apelou à sociedade brasileira para que não poupe esforços no
combate às injustiças sociais e na luta pela inclusão de todos os seus membros.
Em vez de palavras contundentes sobre as manifestações de rua, acontecidas mesmo
durante a sua presença no Rio de Janeiro, ele se dirigiu aos jovens: “vocês que
possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se
desiludem com notícias que falam de corrupção, de pessoas que, em vez de buscar
o bem comum, procuram seu próprio benefício. Nunca desanimem, não percam a
confiança, não deixem que se apague a esperança”.
É
verdade, a realidade pode mudar, quando a solidariedade deixar de ser um
conceito antissocial. “Procurem ser os primeiros a praticar o bem e a não se
acostumar com o mal”, concluiu o Papa.
Cardeal Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo