Você ainda se confessa?
No dia 30 de junho, um site de Campo Grande
publicou um artigo sobre a confissão, um assunto que parece fora de moda, quase
um tabu. Nele, o autor escrevia: “Drogas, questões sexuais e brigas familiares
mantêm o sacramento da confissão em alta mesmo em tempos de “é proibido
proibir”. Com novos conceitos, como a troca da nomenclatura “pecado” por
“dilema”, fim das penitências folclóricas e até a abolição do confessionário, o
ato de reconciliação com Deus ganha ares de terapia”.
Ao longo do texto, o articulista deu a palavra
a dois sacerdotes que atuam em Campo Grande: o Pe. Wilson Cardoso de Sá,
diretor do Instituto de Teologia João Paulo II, e o Pe. Dírson Gonçalves,
reitor do Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Em seu sentido mais profundo, explica o Pe.
Wilson, o pecado é adultério e idolatria: quebra ou, pelo menos, enfraquece a
comunhão que liga o homem a Deus, ao próximo e à criação. Mesmo quando oculto,
ele não prejudica apenas a quem o comete, mas a toda a humanidade.
Seu conceito sofreu uma grande transformação
na sociedade. Enquanto alguns cristãos pensam que nada mais seja pecado, outros
o resumem ao campo da sexualidade. Esquecem que também a fofoca, a corrupção, a
droga, a violência e as infrações no trânsito integram a lista das faltas a
serem confessadas e corrigidas.
E o que dizer da “penitência” que o padre
impõe a quem busca o confessionário? Responde o Pe. Wilson: “Se você fez
aborto, nada vai trazer a pessoa de volta; mas você pode dar sua ajuda a uma
criança, a uma família. Se roubou, deve devolver o dinheiro. Se caluniou, você
precisa pedir perdão não só a quem ofendeu, mas também às pessoas que foram
contaminadas...”.
Por sua vez, o Pe. Dírson orienta os fiéis a
se confessarem pelo menos duas vezes ao ano, nas solenidades do Natal e da
Páscoa. Mas é bom fazê-lo também ao longo do ano: “Muita gente vem em busca de
orientação e de conselhos. Há pessoas que sofrem relacionamentos complicados no
namoro, no casamento, na família. Crescem a cada dia os problemas derivados do
consumo da droga, da bebida, da falta ou do excesso de bens materiais”.
Como os demais sacramentos da Igreja, a
confissão é um grande presente de Deus. Reconhecer o pecado já é meio caminho
andado, uma atitude que leva à felicidade e à santidade. É o que reconhecem
todas as pessoas que experimentam a misericórdia de Deus: “Feliz o homem que
foi perdoado, a quem o Senhor não olha mais como culpado! Enquanto eu escondia
o meu pecado, os meus ossos definhavam, as minhas forças fugiam e eu passava o
dia chorando e gemendo. Mas quando confessei o meu pecado, tu logo perdoaste a
minha culpa”. (Sl 32,1-5).
Para a Igreja Católica, a confissão é vista
como o sacramento da penitência e da reconciliação, instituído por Jesus no
domingo da Páscoa: “Os pecados daqueles que vocês perdoarem, serão perdoados;
mas, se não os perdoarem, eles ficarão retidos” (Jo 20, 23). Tal doutrina é
assim apresentada pelo Concílio Vaticano II: “Os fiéis que se aproximam do
sacramento da penitência obtêm da misericórdia divina o perdão da ofensa feita
a Deus e, ao mesmo tempo, são reconciliados com a Igreja que feriram pecando,
mas que agora colabora para a sua conversão com caridade, exemplo e orações”.
Contudo, a confissão não foi dada “apenas”
para perdoar pecados. Deus não precisa dela para demonstrar sua misericórdia a
quem se arrepende. O grande milagre operado por ela é permitir que Deus penetre
em nossa vida através das fraquezas que lhe entregamos. Ao recebermos a
absolvição, o pecado perde a sua força e se transforma em graça. Foi esta a
descoberta que levou São Paulo a ter uma nova visão da perfeição cristã: “Se a
força de Deus se realiza na fraqueza, prefiro gloriar-me dela, pois, quando sou
fraco, então é que sou forte” (2Cor 12, 9-10). Descobrir a arte de aproveitar
das próprias faltas para dar a Deus a alegria de ser amor e misericórdia: eis o
paraíso já aqui na terra!