A santidade é para todos, afirma o Cardeal Odilo Scherer
Quase no fim
do Ano da Fé, a celebração da solenidade litúrgica de Todos os
Santos nos deu a ocasião para recordar um dos artigos
finais da Profissão de Fé da Igreja: “Creio na comunhão dos santos”. O
Catecismo da Igreja Católica explica bem essa afirmação de nossa fé nos
parágrafos 946 a 987.
A Igreja
possui um “patrimônio comum”, do qual todos participamos: a santidade, dom do
Espírito Santo dado aos discípulos de Cristo. Todos contribuímos para esse
patrimônio com nossa vida santa e todos somos por ele também beneficiados. Na
Igreja, ninguém é herói solitário: estamos em boa companhia!
Isso nos leva
a ter uma atenção especial aos santos e santas, que são as testemunhas excelsas
de Cristo; a Igreja, ao proclamar um santo, confirma que sua vida foi uma
interpretação exemplar da vida cristã e um testemunho luminoso do Evangelho do
Reino de Deus no mundo. E como os dons de Deus são inumeráveis, há também
numerosas formas de santidade e de vidas santas. Cada santo, a seu modo, é um
exemplo de vida segundo o Evangelho e pode ser imitado pelos outros, sem medo
de errar.
Nossos santos
católicos não são mitos criados pela fantasia humana. São pessoas que viveram
num tempo e num espaço, tiveram uma história pessoal, que pode ser conhecida e
verificada; eles são os membros da Igreja, que já chegaram lá, onde todos nós
queremos chegar um dia. Mas pela “comunhão dos santos”, eles continuam ligados
a nós e nós, a eles. Eles são mestres de vida cristã, testemunhas e exemplos de
perseverança na fé, muitas vezes vivida em meio a inumeráveis dificuldades.
Muitos deles morreram martirizados, proclamando essa fé, que também nós
professamos.
Penso, por
isso, que a vida dos santos seja parte importante da Catequese e da iniciação à
vida cristã. Eles já percorreram a estrada que nós somos chamados a percorrer;
eles foram discípulos exemplares de Cristo, foram bons cristãos e viveram de
modo exemplar as virtudes, que também nós somos chamados a viver.
Gosto de
retomar a Carta Apostólica Novo millennio ineunte (No início do novo milênio,
2001), do Papa João Paulo 2º. É breve, iluminada, programática. Ali se diz que
a santidade é a prioridade das prioridades pastorais: “Não hesito em dizer que
o horizonte para o qual deve tender todo o caminho pastoral é a santidade” (cf.
n. 30).
A santidade é
a vocação universal dos batizados, conforme nos ensina o Concílio, ao falar da
Igreja (cf. Lumen Gentium, cap. V). A santidade não é uma ilustração opcional à
vida cristã, mas a sua própria meta; pela fé e pelo Batismo, estamos em
comunhão com aquele que é o santo e a fonte de toda santidade. A santidade é
uma das qualidades da Igreja e deve também ser a marca de todos os seus
membros: “Esta é a vontade de Deus a vosso respeito: a vossa santificação” (1Ts
4,3). É a vocação de todos os batizados.
A programação
pastoral deve ser marcada pela busca da santidade. Por isso, diz ainda João
Paulo 2º na mesma Carta Apostólica: “Perguntar a um catecúmeno – queres o
Batismo? – significa ao mesmo tempo perguntar-lhe – queres ser santo?” (n. 32).
A santidade, portanto, não é apenas para alguns poucos, mas para todos os
discípulos de Cristo.
E o Papa
Francisco, na homilia da solenidade de Todos os Santos, voltou a lembrar que a
santidade tem um caminho, um rosto e um nome: Jesus Cristo. Estar em comunhão
com Ele, seguir seus passos, imitar seu exemplo – eis o jeito da santidade.
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo