A logística
do amor: um estudo
O amor é o grande tesouro que está no céu do nosso interior. Quando nos
predispomos, em tom oratório, a discursar sobre o amor, nossa consciência
assume a direção de operacionar o que registramos, chamando a atenção de todo o
nosso ser. Nossos sentimentos, igual compartimentos, gerenciam o que de mais
valia temos, a coragem de dispor, com antecipação, alguém a desejar o bem de
outrem, ou de alguma coisa. Nosso coração, em seus mais belos ritmos,
oferece-nos o sangue, serpenteando todos os caminhos do corpo, levando-nos ao
oceano da vida. Quem sente este afeto familiariza-se consigo mesmo e com os
outros. Saint-Exupéry alimenta nossas qualidades morais: "O amor não
consiste em fitar um ao outro, mas em olhar juntos na mesma direção". Já
Balzac nos presenteia com outra perspectiva: "O amor é a única paixão que
não admite nem passado nem futuro". O amor é bem maior do que toda a
aritmética e álgebra.
Quem se amedronta a falar de amor, se esconde nos muros do medo. O amor
já levou muita gente a mudar de vida a ter novas atitudes a se descobrir.
Lembremo-nos de Jesus de Nazaré quando perdoou a mulher pecadora (Jo 8, 1-11).
Em sua metodologia não estava um passado que recriminava, julgava,
escondendo-se na hipocrisia de uma lei, mas no amor maior de dizer: "Quem
não tem culpa atire a primeira pedra" (Jo 8, 7). O amor vai além do
pensar, julgar e agir. É bálsamo que cura, limpa a ferida, enobrece o coração,
valoriza os sentimentos, e dá paz à consciência. Garante-nos Guiraut de
Borneilh: "Assim, pelos olhos, o amor atinge o coração. Os olhos são os
espiões do coração vão investigando o que agradaria a este possuir. Quando
entram em pleno acordo se harmonizam. Nesse instante nasce o amor perfeito,
daquilo que os olhos tornaram bem-vindo ao coração. O amor não pode nascer nem
ter início senão no pendor natural. Essa fonte segue clara dando esperança e
conforto aos seus amigos. O amor é fruto das três sementes plantadas, vale
dizer: da consciência, dos sentimentos e do coração". O amor é mais do que
um conjunto de sistemas e algarismos aplicados à lógica.
Emoldurar-se no amor é, pintar com as mais eloqüentes cores, a arte de
dirigir o espírito na investigação da verdade. Este grande tesouro está no céu
do nosso interior. Quem nele acumula ódios, rancores, vinganças, empobrece o
que ele arrecadou. O amor valoriza a força de vontade quando nos empenhamos de
verdade a mudar de vida. Assim aconteceu com a cura dos dois cegos (Mt 9, 27ss)
e do possesso mudo (Mt 9, 32ss). O amor precisa ser uma página em branco onde
todos os dias escrevo a verdade de minhas ações e o real do meu existir. Louise
Hay declara: "O amor vem de onde menos se espera quando não se está
procurando por ele. Sair à procura do amor nunca resulta na chegada do certo e
só cria melancolia e infelicidade. O amor nunca está fora, mas dentro de
nós". Jesus chama-nos para a confiança quando as tempestades da vida
parecem nos assolar (Mt 8, 23-27). O amor sempre vence. Pensemos nisso.
Cônego
Manuel Quitério de Azevedo
Colunista do
Portal Ecclesia
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