Bento XVI, um ano de silêncio
O Papa
emérito Bento XVI, que anunciou a sua renúncia ao pontificado a 11 de fevereiro
de 2013, está a manter uma vida de recolhimento e silêncio público vista como
“exemplar” por responsáveis e especialistas católicos.
Dom
Manuel Clemente, patriarca de Lisboa e presidente da Conferência Episcopal
Portuguesa, vê nesta atitude uma “enorme coerência” por parte do Papa alemão.
“Ele
tem sido exemplar, como Papa emérito, como foi exemplar no exercício do
pontificado, dentro daquilo que é a sua maneira de ver e sentir as coisas, quer
na lucidez com que considerou que não estava em condições de exercer um
ministério tão exigente”, refere à Agência Ecclesia.
Bento
XVI apresentou a sua renúncia durante uma reunião com várias dezenas de
cardeais, que tinha sido convocada para aprovar a canonização de três beatos: o
agora Papa emérito afirmou, em latim, que as suas forças devido à idade
avançada, já não eram “idóneas” para exercer adequadamente o seu ministério,
que chegaria ao fim a 28 de fevereiro.
O
diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC), padre José
Tolentino Mendonça, define a renúncia de Bento XVI ao pontificado como um gesto
“profético”.
“É um
grande gesto profético porque mostra que a vida não acaba com a chamada vida
ativa em que fazemos, produzimos, construímos mas que a vida humana também
precisa de outras dimensões: o testemunho que ele dá é um testemunho de
humildade, de desprendimento mas de uma grande sabedoria espiritual”, assinala.
Para o
franciscano Joaquim Carreira das Neves, biblista e teólogo, o silêncio de Bento
XVI é agora o de um monge.
“Eu
vejo este deserto do Papa como um deserto a florir no meio da própria Igreja”,
sustenta.
Rita
Figueiras, professora e investigadora da Faculdade de Ciências Humanas da
Universidade Católica Portuguesa, destaca a opção de Bento XVI de abdicar por
completo de qualquer espaço no “palco mediático”.
“Há
aqui um efeito poderoso do silêncio: no momento em que todas as pessoas podem
ter acesso ao espaço público, em que é extremamente acessível mostrar uma
imagem ou uma opinião, o que é mais significativo é a opção de não o fazer”,
afirma à Agência Ecclesia.
O Papa
emérito tem sido alvo de críticas em várias publicações e nas redes sociais,
fruto de várias comparações ao seu sucessor, Francisco.
O mais
recente episódio envolveu a revista norte-americana «Rolling Stone», que faz
manchete com o Papa Francisco, na sua edição de fevereiro, e elogia a sua
“revolução suave” num artigo que ridiculariza Bento XVI.
Segundo
o padre Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, a
publicação “desqualifica-se a si mesma”, lamentando em particular as críticas
“surpreendentemente agrestes” ao Papa emérito, que chega a ser comparado a uma
personagem de um filme de terror.
Rita
Figueiras entende que este contraponto entre os dois Papas decorre do próprio
discurso dos media: “Nesta fase da narrativa, digamos assim, a narrativa é da
diferença. Julgo que virá o dia em que a narrativa será o que é que há de
próximo”.
O
porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, padre Manuel Morujão, considera
que o recolhimento a que Bento XVI se entregou tem um significado profundo.
“Saber
viver a nossa dimensão profunda, darmos atenção a Deus, aos outros, sem
vivermos num rodopio, é um exemplo para nós que estamos empenhados em fazer
tantas coisas”, declara.
Com
informaçoes Agência Ecclesia
Da redação do Portal Ecclesia.
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