Novos caminhos
Foi
divulgada na última terça-feira, 26 de novembro, a Exortação Apostólica
Evangelii Gaudium - Alegria do Evangelho -, a primeira do Papa Francisco. Já no
último domingo o documento havia sido entregue, de forma simbólica, durante a
celebração de encerramento do Ano da Fé e na Solenidade de Cristo Rei a um
grupo de fiéis. Não gostaria aqui de pretender fazer resumo ou coisa parecida
de um documento de suma importância, mas sim de chamar a atenção para a
dimensão do mesmo e da necessidade que temos de lê-lo, interpretá-lo,
refleti-lo. Segui um pouco as agências de noticiais internacionais para ver
como elas trataram a notícia desse documento, qual enfoque, qual frase.
Conclusão: todas são unânimes em chamar a atenção sobre a dimensão do texto, da
reviravolta proposta pelo Papa Francisco, da necessidade de abertura da Igreja
Católica, e da crítica a uma ordem econômica mundial que muitas vezes gera
violência. Francisco de modo sutil e direto chama a atenção para a construção
de um mundo mais justo, de uma Igreja que esteja a serviços dos últimos, dos
marginalizados, dos excluídos. Volta a recordar a teoria do “desperdício”.
A
Exortação do Papa Francisco não é um documento só para os cardeais, bispos,
sacerdotes e religiosas, mas sim para todo o Povo de Deus; não devemos pensar
que só o clero, os ordenados e consagrados devem refletir e aplicar as
indicações e as propostas de Francisco. As exortações apostólicas são
documentos papais, contendo recomendações. Em termos de solenidade, situam-se
abaixo das encíclicas e acima das cartas apostólicas.
Voltando
à Evangelii Gaudium, o Papa Francisco no seu longo texto de mais de 200 páginas
centraliza a sua atenção na difusão da mensagem de Cristo, e o faz de um modo
diferente e acessível a todos, tocando temas que vão desde a economia global à
reforma das estruturas eclesiásticas. Durante a apresentação da Exortação
Apostólica no Vaticano, o Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da
Nova Evangelização, Dom Rino Fisichella, disse que a mesma pode ser resumida
como um documento escrito à luz da alegria para redescobrir a fonte da
evangelização no mundo contemporâneo. O Papa Francisco “infunde coragem e
provoca um olhar adiante, apesar do momento de crise, fazendo, uma vez mais, da
cruz e da Ressurreição de Cristo a ‘bandeira da vitória’”.
Um
texto denso que recebeu também a contribuição de cardeais, arcebispos e bispos
de todo o mundo que participaram no ano passado do Sínodo para os Bispos que
teve como tema precisamente “A nova evangelização para a transmissão da fé”. O
documento de Francisco, tem caráter universal, mas reflete, em certo modo, a
sua experiência na realidade latino-americana; nessa realidade a
espiritualidade se encarnada na cultura dos mais simples.
Nos
seus 288 parágrafos o documento está dividido em 5 capítulos: a transformação
missionária da Igreja, a crise do compromisso comunitário, o anúncio do
Evangelho, a dimensão social da evangelização e evangelizadores com espírito. O
que mantém unido essas temáticas é o amor misericordioso de Deus, que vai ao
encontro de cada pessoa.
Nas
tantas reflexões que o Santo Padre compartilha com quem lê a Exortação estão
muitos convites para que o fiel renove o seu encontro, a sua relação com
Cristo, e se deixe encontrar por Ele, buscando-O sem cessar.
O
texto simples e convidativo nos faz ver a real visão que o homem que “veio do
fim do mundo” tem sobre as necessidades de mudanças não só da Igreja, - e isso
é evidente – mas também no comportamento de todo homem, num mundo que se fecha
cada vez mais no seu egoísmo e indiferentismo. Francisco sacode mais uma vez as
nossas consciências, as consciências de todos os homens de boa e sem vontade.
Prioridade aos pobres, na linha do pobrezinho de Assis, alertando que a pobreza
gera violência; junto com isso pede a liberdade de professar a fé a quem quer
que seja, recordando os cristãos no Oriente Médio.
O
Papa não se furta de tocar no assunto da “saudável descentralização” da Igreja,
com maiores responsabilidades para os leigos; convida o clero a “romper esquemas”,
a serem audazes e criativos, numa Igreja missionária, alegre aberta a todos
principalmente aos jovens; denuncia a globalização da indiferença, assim como o
tráfico de seres humanos; pede aos países que acolhem imigrantes "uma
generosa abertura" e ajuda para as mulheres que sofrem situações de
exclusão, maus-tratos e violência. Sobre o aborto, legalizado em quase todos os
países da Europa, o Papa reconhece que “não se deve esperar que a Igreja mude
sua postura sobre o tema, pois não é ser progressista resolver problemas
eliminando uma vida humana”. Ainda o tema da relação com os muçulmanos, e com
as outras confissões.
“A
alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram
com Jesus… Quero, com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos a fim de os
convidar para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria e indicar
caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos”. Essas são as palavras do
início a Exortação Apostólica e o convite de Francisco com a sua “Evangelii
gaudium” para um novo momento de fé, de esperança e de Igreja. Boa leitura, e
boa reflexão.
Silvonei José Protz
Colunista do Portal Ecclesia.
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