RECONHECER OS PASSOS DE MARIA COMPROMETE TODOS OS CRISTÃOS
Os Bispos da América Latina e do Caribe reconheceram, na Grande
Conferência de Aparecida, que as maiores riquezas de nossos povos são a fé no
Deus de amor e a tradição católica na vida e na cultura. Manifesta-se na fé
madura de muitos batizados e na piedade popular que expressa o amor a Cristo
sofredor, o Deus da compaixão, do perdão e da reconciliação, o amor ao Senhor
presente na Eucaristia, - o Deus próximo dos pobres e dos que sofrem, - a
profunda devoção à Santíssima Virgem nos diversos nomes nacionais e locais.
Expressa-se também na caridade que em todas as partes anima gestos, obras e
caminhos de solidariedade para com os mais necessitados e desamparados. Está
presente também na consciência da dignidade da pessoa, na sabedoria diante da
vida, na paixão pela justiça, na esperança contra toda esperança e na alegria
de viver que move o coração de nosso povo, ainda que em condições muito
difíceis. A Igreja tem a grande tarefa de proteger e alimentar a fé do povo de
Deus. (Cf. Documento de Aparecida 7).
Bento XVI, falando aos Bispos, destacou a rica e profunda
religiosidade popular, na qual aparece a alma dos povos latino-americanos, o
precioso tesouro da Igreja católica na América Latina. Convidou a promovê-la e
a protegê-la. Esta maneira de expressar a fé está presente de diversas formas
em todos os setores sociais, numa multidão que merece nosso respeito e carinho,
porque sua piedade reflete uma sede de Deus que somente os pobres e simples
podem conhecer, expressão da fé católica, catolicismo popular, profundamente
inculturado, que contém a dimensão mais valiosa da cultura latino-americana
(Cf. Documento de Aparecida 258).
O
tesouro aberto revela uma figura feminina. Maria de Nazaré, Mãe de Deus e nossa
Mãe. Encontrá-la é descobri-la como modelo de fé. Nós desejamos acreditar em
Jesus Cristo, seu Filho, com a mesma intensidade de sua resposta a Deus. A fé,
em Nossa Senhora, é compromisso imediato, sem desculpas, no ato de liberdade
mais digno que uma pessoa humana pode realizar: “Eis
aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 37). Esta fé foi provada e
comprovada, no anúncio da dor, espada que transpassa a alma (Lc 2, 35), no
esforço ingente para salvar o que pertence a Deus a qualquer custo, fugindo
para o Egito (Mt 2, 13-15), e ainda buscando um filho adolescente que devia
cuidar das coisas “do Pai” (Lc 2, 48-50). A Mãe se tornou discípula do Filho
(Cf. Jo 2, 1-12) e chegou à plena maturidade aos pés da Cruz: “Junto
à cruz de Jesus, estavam de pé sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e
Maria Madalena. Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele
amava, disse à mãe: ‘Mulher, eis o teu filho!’ Depois disse ao discípulo: ‘Eis
a tua mãe!’ A partir daquela hora, o discípulo a acolheu no que era seu” (Jo 19, 25-27). Após a Ressurreição, a
Virgem Maria é o amparo da fé para os discípulos em oração, na expectativa do
derramamento do Espírito Santo, para depois permanecer com a Igreja, Mãe,
Modelo, Intercessora, acompanhando-a até a volta do Senhor, no fim dos tempos.
Todo discípulo verdadeiro traz Maria consigo, como parte essencial de seu
seguimento de Jesus Cristo.
Esta fé
é para ser vivida e testemunhada. Olhar para Nossa Senhora e reconhecer os
passos dados por ela compromete todos os cristãos. Ninguém venha para o Círio
como espectador. Turista não se sente bem! Só desfruta o Círio quem tem coração
simples, quem aposta no que vê e descobre o que não vê.
Dom
Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA
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