quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

FRATERNIDADE E TRAFICO HUMANO

Tráfico humano


A Campanha da Fraternidade, que existe há mais de cinquenta anos, é um evento quaresmal realizado pela Igreja no Brasil e quer comprometer os cristãos em particular e a sociedade em geral na busca do bem comum através do espírito comunitário. Isso só é possível quando acontece a educação para a fraternidade, tendo como ponto de partida a justiça e o amor, que são exigências centrais do Evangelho. Com isso, a consciência do cristão é renovada em vista da responsabilidade pela ação evangelizadora da Igreja, pela promoção humana e por uma sociedade justa e solidária. O tema da Campanha da Fraternidade tematiza o ano todo e serve para aprofundar algumas pastorais afins para que continuem levando adiante os desafios que a CF propõe.
No início de fevereiro, a Arquidiocese do Rio de Janeiro apresentou o tema a todos os agentes de pastoral para que concluíssem as preparações iniciadas em todos os vicariatos já no final do ano passado, e assim, fossem os primeiros animadores da CF durante o tempo da Quaresma, que iniciará daqui a um mês, na Quarta-feira de Cinzas.
É a época que nos apresenta a proposta da conversão, que deve acontecer em três âmbitos: o pessoal, o social e o eclesial. A Campanha da Fraternidade, enquanto evento quaresmal, deve contribuir para que esta proposta seja concretizada. No âmbito pessoal, ela nos leva a tomar consciência a respeito de um grave problema de ordem nacional (e mundial) e a nos posicionar diante dele. Em âmbito social, nos convida à mobilização e a iniciativas em vista da superação do problema. Em âmbito eclesial, nos convida a adequar a nossa ação pastoral em vista das necessidades do rebanho, em especial àquelas que dizem respeito ao tema abordado por ela. Neste ano, o tema é “Fraternidade e Tráfico Humano”.
A liturgia da Quarta-feira de Cinzas nos mostra os três elementos principais que o tempo quaresmal nos propõe para que a conversão aconteça: a oração, o jejum e a esmola. A oração é um grande canal através do qual a graça divina, elemento fundamental para a conversão, chega até nós. O jejum nos une mais de perto ao Cristo sofredor e nos convida a buscar os verdadeiros valores que devem nortear o nosso existir enquanto peregrinos nesta terra rumo ao Reino definitivo. A esmola é o que transforma o jejum em caridade e nos leva a crescer no amor aos mais pobres e necessitados, tendo como mística o próprio Cristo sofredor, presente neles, pois “todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” (Mt 25, 40). 
A Campanha da Fraternidade contribui com o espírito de oração quaresmal através dos seus subsídios litúrgicos, celebrativos e para as mais diferentes formas de reuniões do nosso povo. Contribui também com o jejum, pois nos convida a voltarmos o nosso olhar para valores que nos motivam a buscar mais o perene, através de valores que nos levam a contribuir para a superação do sofrimento presente em consequência da absolutização do transitório. Por fim, contribui com a esmola através da realização da Coleta Nacional da Solidariedade, que sempre acontece no Domingo de Ramos e da Paixão, com o objetivo de investir em projetos de solidariedade por todo o nosso país.
Com o objetivo de “identificar as práticas de tráfico humano em suas várias formas e denunciá-lo como violação da dignidade e da liberdade humana, mobilizando cristãos e a sociedade brasileira para erradicar esse mal, com vista ao resgate da vida dos filhos e filhas de Deus”, a Campanha da Fraternidade de 2014 quer envolver todas as pessoas, a Igreja e a sociedade no combate a este crime tão degradante, que está presente no seio da humanidade desde os tempos mais antigos e que nunca foi combatido com a devida seriedade, sendo que, muitas vezes, contou com a anuência e o apoio da sociedade em geral e até mesmo das mais diversas instituições políticas surgidas ao longo da história.
É um tema social que não é apenas para o interior da Igreja, mas também é a Igreja que profetiza sobre o assunto para nossa sociedade. O teólogo J. B. Libânio, SJ, recentemente falecido, em seu artigo na revista “vida pastoral 295” recordou: “assusta-nos até onde chega a perversidade de traficar seres humanos como se fossem coisas”, e ainda: “a CF 2014 escolheu como tema um desses atos perversos que nos envergonham – o tráfico humano –, a fim de despertar e reforçar na consciência dos brasileiros o repúdio por tal prática.”
Dom Orani João Tempesta

Colunista do Portal Ecclesia. 

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